segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A verdadeira intenção do PSDB

O Senador Alvaro Dias declarou que o partido está em negociação com uma empresa de Houston, nos Estados Unidos, para auxiliar seu trabalho na CPI da Petrobras. E diz mais “Foi a única empresa até agora que topou nos ajudar porque não é daqui e deve trabalhar para as concorrentes da Petrobrás. Na próxima semana devemos ter muito mais munição”.As motivações do PSDB aos poucos vão ficando claras. Para atacar um patrimônio nacional busca apoio em uma concorrente nos Estados Unidos, país que tem enorme interesse no enfraquecimento da Petrobras, já que pretende que suas empresas de petróleo ganhem importante fatia do pré-sal. Para isso contam com um senador tucano, que se dispõe a fazer o jogo do capital internacional contra a empresa brasileira.
Depois de tentar mudar o nome da empresa para PETROBRAX, agora os tucanos se dispõem a prestar relevantes serviços aos concorrentes de nossa maior empresa. Mas, sobre isso, a imprensa não fala uma linha.
Álvaro Dias deverá se encontrar com representantes de uma empresa de Houston na próxima semana para fechar contrato de investigação sobre a Petrobras. Dias deixou subentendido que a investigação que ficará a cargo da tal empresa pode ultrapassar a análise dos documentos enviados à CPI. O senador falou sobre essa questão com jornalistas do Globo, Estadão e Folha. Mas não deu detalhes.
Outro senador que estaria envolvido nos contatos com a empresa é Sérgio Guerra, mas ele se nega a falar sobre o assunto.”
O Conversa Afiada, na segunda-feira, perguntará ao senadores Álvaro Dias e Sérgio Guerra os termos da colaboração dos tucanos com a empresa americana para desestabilizar a Petrobrás e meter a mão no pré-sal.

domingo, 30 de agosto de 2009

SEM NOÇÃO

Teatro lotado, show começando no horário marcado, a companhia de alguém muito especial, o artista entrando de forma glamurosa. Tudo caminhando para ser uma noite impecável, não fossem aqueles incovenientes flashes dos celulares tentando fotografar não sei o quê.
Com a iluminação do teatro reduzida as fotos tiradas a partir do celular não servem para praticamente nada. Não são nítidas, a resolução é ruim, entre outras desvantagens. Além disso ainda existe a questão do desrespeito ao pedido da organização de não fotografar usando flashes. São pequenas luzes que no escuro do teatro se tornam insuportáveis. Mas, um dia, tenho fé que evoluiremos também neste sentido.

sábado, 29 de agosto de 2009

Vou votar na "Jakie"

Alguns minutos dançando em um palco de uma casa de shows de Salvador rendeu à professora Jequeline Carvalho uma exposição midiática muito maior que muito partido grande não consegue.
Os pouco mais de 6 minutos dançando ao som da musica "Todo Enfiado" da Banda O Troco lhe renderam matérias em todos os meios e veículos de comunicação baianos e alguns nacionais.
A rede Record gastou duas preciosas horas da sua programação de fim de tarde exibindo repetidas vezes o vídeo e entrevistando a moça. As perguntas, como não poderia ser diferente neste tipo de programa, ao invés de debater o polêmico aparecimento da professora, se ocupou apenas tentar saber das pretensões artísticas de Jaqueline. O interrogatório queira saber se ela vai posar nua ou ser dançarina da banda e coisas do tipo.
Ela revelou também que havia bebido duas garrafas de whisky e cerveja. Eu custo a acreditar. É muito álcool.
Não sou defensor nem acusador da professora Jaqueline Carvalho. Apenas penso que o foco da discussão deveria ser os caminhos que a música baiana tem trilhado. Temos compositores, cantores, poetas, enfim, artistas de todas as matizes, mas o que gera discussão e mídia gratuita é este tipo de música.

terça-feira, 7 de julho de 2009

ONDE OS FRACOS TEM VEZ

TELEANÁLISE - Malu Fontes

Numa mesma semana a televisão contou com uma pauta longa de notícias relevantes. Michael Jackson, Farah Fawcett e Pina Bausch morreram, cerca de 150 passageiros sumiram no Oceano Índico na queda do segundo Airbus no mar em um mês, a lama em torno do senado e de José Sarney subiu a níveis de transbordamento, fezes e dejetos de todo o tipo (fraldas usadas, sanitários químicos usados e compactados) foram importados pelo Brasil da Inglaterra via porto de Rio Grande (RS), o pregão eletrônico viva voz das bolsas de valores no Brasil deixaram de existir para sempre, um grupo de militares fossilizados ressuscitou o golpe de estado em Honduras e a gripe suína provocou a primeira morte no Brasil, onde o número de contaminados já aproxima-se de 700. É muita informação importante para período tão curto.

No entanto, para o telespectador de Salvador, é pouco provável que quaisquer destas informações veiculadas ostensivamente em todas as emissoras abertas e fechadas de TV tenham tido força suficiente para ofuscar a contundência do ato e da entrevista do professor de Educação Física Adalberto França de Araújo Filho, 39 anos, preso na última segunda feira por torturar, esfaquear, atirar e queimar a mulher e mãe de sua filha na quinta-feira da semana anterior. Não se trata de um homem miserável, desses analfabetos, famélicos, a quem o senso comum atribui a barbárie doméstica praticamente como um sintoma natural da condição desumana de onde emergiram desde que estão no mundo. Trata-se de um homem desses aparentemente comuns, desses que podem ser vistos em delicatessens de rico comprando comes e bebes para compartilhar com os amigos na casa confortável de classe média onde vive com mulher e filhos.

PÊNIS E FACAS - O tempo passa, o tempo voa e o machismo continua, sim, numa boa. Para boa parte dos homens, sobretudo os latinos, o pênis ainda é tido como uma arma contra a mulher. Uma arma que a qualquer momento pode se estender prolongando-se sob a forma de facas, revólveres, murros, gritos, humilhações, autoritarismo, imposição de controle, torturas morais e físicas e assassinato. Além disso, a autoridade e a hierarquia doméstica depositadas exclusivamente sobre o homem ainda é um valor tão comum entre as boas famílias quanto o almoço de domingo. Muita coisa mudou, mas a possessividade bestial masculina ainda é tão entranhada que Adalberto dá-se ao direito de alegar razões para o que fez e se permite atribuir a si o poder de perdão. Diz, sem que lhe perguntem algo tão nonsense, que, sim, é capaz de perdoar a mulher, que sobreviveu, embora com toda o tipo de seqüelas: dedos cortados, fraturas múltiplas, incluindo mãos e os dois pulsos, hematomas incontáveis, tiros, cortes e queimaduras, inclusive com pontas de cigarros nos seios.

O perdão seria por ela o trair. A certeza da traição veio da confissão arrancada em 4 horas de violência e tortura. Houve de tudo. Cortes de faca no rosto, na vagina e no ânus, ingestão de fezes dele sob a mira de um revólver carregado (e disparado várias vezes), jatos de leite fervente sobre o corpo, várias queimaduras de cigarro e detalhes que chocaram os médicos que a atenderam. O agressor argumenta de forma assertiva que não é o único culpado pelo que aconteceu, pois ela sabia que ele não admite traição. Imagina se os machos sentados sobre seus sacos inflados de poder outorgado por séculos são capazes de admitir que suas mulheres lhes devolvam aquilo que é praticado por eles com tanta naturalidade. Defende-se dizendo que não a torturou. O que fez foi ter usado, por perder a cabeça, meios indevidos para levá-la a falar a verdade. Em seu raciocínio de macho castrado pela impossibilidade de se imaginar preterido, tudo o que fez foi por amor. Sim, no Século XXI ainda há imbecis graduados capazes de usar um argumento tão rastaqüera e vencido. Se há universo onde os fracos morais ainda tem vez, é na violência doméstica. A punição ainda está longe de alcançá-los na medida em que merecem.

JESUS CRISTO - As imagens de TV com as declarações de Adalberto são um peça a ser adotada nacionalmente nos anais do machismo brasileiro. E não vale o argumento de surto ou doença. Uma coisa é patologia, outra é mau caratismo e violência masculina, pois, como se não bastasse o argumento amoroso, há outro: surto psicótico. Se há algo difícil de ser explicado pelos pesquisadores dos descaminhos da mente humana, é o surto premeditado. Na véspera, o agressor tratou, segundo foi divulgado, de providenciar uma receita médica de um medicamento de uso controlado, tarja preta. Na noite do crime, mandou a babá e a filha pequena para a casa de parentes. As intenções do surto, portanto, chegaram bem antes da manifestação.

Nem Nélson Rodrigues colocaria algumas das frases de Adalberto na boca dos maiores de seus cafajestes de ficção. Sobre a irrefutabilidade da traição confessada pela companheira, não titubeia: ninguém mentiria, segundo ele, diante de um revólver carregado. Quanto equívoco: por muito menos e, sob a promessa de que, em caso de confissão, nada aconteceria, como ele fez, qualquer fortão revelaria, em segundos, ser o mentor e executor da crucificação de Jesus Cristo. Para as mulheres, diante do nojo experimentado com as falas de um impotente moral se fazendo passar por limpador da própria honra, ouvir na TV que a Inglaterra está literalmente exportando merda para o Brasil, soa como uma notícia quase banal, afinal o país já produz tanta que uns contâineres a mais ou a menos...

Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado em 05 de julho de 2009. maluzes@gmail.com

domingo, 5 de julho de 2009

Lula na liderança

Em pesquisa realizada entre os dias 10 e 13 de Junho pelo Instituto Veritá em Uberlândia-MG constatou-se a aprovação dos governos municipal, estadual e federal. O presidente Lula tem a aprovação de 72,7% dos entrevistados, que responderam a pesquisa com conceitos de ótimo ou bom. Dos 20,9% que avaliaram o governo como regular, 61,7% entendem como regular positivo. Considerando este grupo o percentual de aprovação do lider do executivo sobe para 85,6%.
A mesma pesquisa avaliou também os governos municipal e estadual. O prefeito de Uberlândia foi aprovado por 61,6% dos entrevistados e o governador Aécio Neves ficou com 51,4%.
Dono de uma capacidade impar de governar e driblar as crises o presidente brasileiro vai aos poucos escrevendo uma densa página da história mundial recente.
Os diversos programas sociais postos em prática pelo governo são o diferencial necessário para evitar o colapso do projeto. O Bolsa Família, o Prouni, o Luz para Todos são exemplos reais de acertos deste governo que escolheu não governar para as elites. Há quem diga que os eleitores de Lula, assim com ele, não leem jornais e por isso votam e respondem pesquisas que levam a este resultado. Eu penso que os resultados das urnas e das pesquisas são produzidos livre e democraticamente pela maioria.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A ditadura do STF

O Supremo Tribunal Federal, numa atitude comparável apenas aos atos da ditadura militar, derrubou a necessidade de diploma para se exercer a profissão de jornalista.
Com argumentos que beiram a insanidade para justificarem seus votos, nosso judiciário se julga competente para decidir sobre uma profissão que não conhecem. Oito cabeças "iluminadas" que se acham superiores.
Por que não caçar a necessidade de certificação para advogados, por exemplo?
Porque esta é uma profissão cuja maioria de seus integrantes fazem parte de uma elite conservadora, retrógrada e medrosa.
Para revogar um decreto, tido por eles como autoritário, cometem uma arbitrariedade que só pode ser comparada ao AI-5. É a ditadura da pena.
É lamentável que um integrante de instância tão alta na magistratura brasileira se valha do argumento de que para ser jornalista basta ter "intimidade com a palavra" ou "olho clínico".
Mas, o que esperar de um judiciário comprometido, parcial e partidário?
Como pode a sociedade confiar nas decisões de quem só manda prender negros e pobres e presenteia com Abeas corpus os lesa pátria e lacaios endinheirados.
Este ato é o decreto de falência das instituições brasileiras. É, aquilo que se auto intitula justiça, insiste em ser mesmo cega.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Aplausos censurados, o desespero da mídia.

Gilson Caroni Filho

17/06/2009

Aplausos censurados, o desespero da mídia.

Os governos militares censuravam a imprensa para impedir a denúncia de torturas, de escândalos administrativos e quaisquer notícias que evidenciassem as crises e a divisão interna do regime. A censura política das informações, institucionalizada pela Lei de Imprensa e pela Lei de Segurança Nacional, foi um dos pilares de sustentação da noite dos generais. Esse era o preço imposto pela ditadura.

Passados mais de 20 anos da redemocratização, com a crescente centralidade adquirida no processo político, a grande mídia comercial tomou para si o papel de autoridade coatora. Sem qualquer pretensão de exercer papel decisivo na promoção da cidadania, não mais oculta seu caráter partidário e deixa claro quais políticas públicas devem permanecer fora do noticiário.

A construção negativa da persona política de lideranças políticas do campo democrático-popular tornou-se o seu maior imperativo. Invertendo a equação da história "republicana" recente, há seis anos a imprensa passou a censurar o governo. Esse é o preço imposto pelo jornalismo de mercado; pelas relações de compadrio entre redações e oposição parlamentar, e pela crise identitária dos que foram desmascarados quando se esmeravam para definir qual era a “democracia aceitável”.

Com o esgotamento do modelo neoliberal, sentindo-se cada vez mais ameaçada como aparelho privado de hegemonia, a edição jornalística já não se contenta mais em subordinar a apuração ao julgamento sumário de fatos e pessoas. Censurar registros que sejam incômodos aos seus interesses político-econômicos, deslegitimado uma estrutura narrativa viciada, passou a fazer parte da política editorial do jornalismo brasileiro.

Em recente viagem a Genebra, o presidente Lula foi ovacionado ao discursar no Conselho Nacional de Direitos Humanos da ONU. Depois, segundo relato da BBC, " foi aplaudido seis vezes" ao criticar o Consenso de Washington e o neoliberalismo na plenária da OIT. O silêncio dos portais da grande imprensa e a ausência de qualquer referência ao fato nas edições da Folha de São Paulo, Globo e Estadão foi gritante.

Representaram o isolamento acústico dos aplausos recebidos. Uma parede midiática que abafa o “barulho insuportável" na razão inversa com que ampliou as vaias orquestradas na cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos em 2007, no Rio de Janeiro. Nada como um aparelho ideológico em desespero.

Se pesquisarmos as raízes do comportamento dos meios de comunicação, veremos que elas nos dirão o quanto já é forte a desagregação da ordem neoliberal a qual serviram desde o governo Collor, passando pelos dois mandatos de FHC. Durante doze anos (de 1990 a 2002), a sociedade civil sofreu rachaduras sob os abalos devastadores da "eficiência" de mercado. Elas afetaram a qualidade da história, as probabilidades de uma República democrática e de uma nação independente.

Lula aparece como condensação das forças sociais e políticas que se voltaram para a construção de um novo contrato social. O tucanato, com apoio de seus porta-vozes nas redações, figura como ator que tenta reproduzir o passado no presente, anulando ganhos e direitos sociais. O que parece assustar colunistas, articulistas e blogueiros é o crescente repúdio á truculência infamante que produzem diariamente. Salvo, claro, a parcela da classe média que tem no denuncismo vazio e no rancor classista elementos imprescindíveis à sua cadeia alimentar. Aquele restolho que costuma pagar a ração diária com comentários insultuosos, sob a proteção do anonimato.

É preciso ficar claro que estamos avançando. Ou os de cima aprendem a conviver com os de baixo, ou como na fábula da cigarra e da formiga, poderão descobrir o arrependimento tarde demais. Seria interessante para a própria imprensa que trocasse os insultos de seus escribas mais conhecidos pelo debate verdadeiramente político. Aquele que busca compreender as condições sociais, políticas, culturais e econômicas de uma modernização que, por não promover exclusão, representa revolução democrática combinada com mudança social. Isso inclui aplausos, mesmo que abafados.

segunda-feira, 9 de março de 2009

NOTA PÚBLICA SOBRE AS DECLARAÇÕES DO PRESIDENTE DO STF, GILMAR MENDES

"Ai dos que coam mosquitos e engolem camelos” (MT 23,24)

Nota Pública sobre as declarações do presidente do STF, Gilmar Mendes

A Coordenação Nacional da CPT diante das manifestações do presidente do STF, Gilmar Mendes, vem a público se manifestar.

No dia 25 de fevereiro, à raiz da morte de quatro seguranças armados de fazendas no Pernambuco e de ocupações de terras no Pontal do Paranapanema, o ministro acusou os movimentos de praticarem ações ilegais e criticou o poder executivo de cometer ato ilícito por repassar recursos públicos para quem, segundo ele, pratica ações ilegais. Cobrou do Ministério Público investigação sobre tais repasses. No dia 4 de março, voltou à carga discordando do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, para quem o repasse de dinheiro público a entidades que “invadem” propriedades públicas ou privadas, como o MST, não deve ser classificado automaticamente como crime.O ministro, então, anunciou a decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do qual ele mesmo é presidente, de recomendar aos tribunais de todo o país que seja dada prioridade a ações sobre conflitos fundiários.
Esta medida de dar prioridade aos conflitos agrários era mais do que necessária. Quem sabe com ela aconteça o julgamento das apelações dos responsáveis pelo massacre de Eldorado de Carajás, (PA), sucedido em 1996; tenha um desfecho o processo do massacre de Corumbiara, (RO), (1995); seja por fim julgada a chacina dos fiscais do Ministério do Trabalho, em Unaí, MG (2004); seja também julgado o massacre de sem terras, em Felisburgo (MG) 2004; o mesmo acontecendo com o arrastado julgamento do assassinato de Irmã Dorothy Stang, em Anapu (PA) no ano de2005, e cuja federalização foi negada pelo STJ, em 2005.
Quem sabe com esta medida possam ser analisados os mais de mil e quinhentos casos de assassinato de trabalhadores do campo. A CPT, com efeito, registrou de 1985 a 2007, 1.117 ocorrências de conflitos com a morte de 1.493 trabalhadores. (Em 2008, ainda dados parciais, são 23 os assassinatos). Destas 1.117 ocorrências, só 85 foram julgadas até hoje, tendo sido condenados 71 executores dos crimes e absolvidos 49 e condenados somente 19 mandantes, dos quais nenhum se encontra preso. Ou aguardam julgamento das apelações em liberdade, ou fugiram da prisão, muitas vezes pela porta da frente, ou morreram.
Causa estranheza, porém, o fato desta medida estar sendo tomada neste momento. A prioridade pedida pelo CNJ será para o conjunto dos conflitos fundiários ou para levantar as ações dos sem terra a fim de incriminá-los? Pelo que se pode deduzir da fala do presidente do STF, “faltam só dois anos para o fim do governo Lula”... e não se pode esperar, “pois estamos falando de mortes” nos parece ser a segunda alternativa, pois conflitos fundiários, seguidos de mortes, são constantes. Alguém já viu, por acaso, este presidente do Supremo se levantar contra a violência que se abate sobre os trabalhadores do campo, ou denunciar a grilagem de terras públicas, ou cobrar medidas contra os fazendeiros que exploram mão-de-obra escrava?

Ao contrário, o ministro vem se mostrando insistentemente zeloso em cobrar do governo as migalhas repassadas aos movimentos que hoje abastecem dezenas de cidades brasileiras com os produtos dos seus assentamentos, que conseguiram, com sua produção, elevar a renda de diversos municípios, além de suprirem o poder público em ações de educação, de assistência técnica, e em ações comunitárias. O ministro não faz a mesma cobrança em relação ao repasse de vultosos recursos ao agronegócio e às suas entidades de classe.

Pelas intervenções do ministro se deduz que ele vê na organização dos trabalhadores sem terra, sobretudo no MST, uma ameaça constante aos direitos constitucionais.

O ministro Gilmar Mendes não esconde sua parcialidade e de que lado está. Como grande proprietário de terra no Mato Grosso ele é um representante das elites brasileiras, ciosas dos seus privilégios. Para ele e para elas os que valem, são os que impulsionam o “progresso”, embora ao preço do desvio de recursos, da grilagem de terras, da destruição do meio-ambiente, e da exploração da mão de obra em condições análogas às de trabalho escravo. Gilmar Mendes escancara aos olhos da Nação a realidade do poder judiciário que, com raras exceções, vem colocando o direito à propriedade da terra como um direito absoluto e relativiza a sua função social. O poder judiciário, na maioria das vezes leniente com a classe dominante é agílimo para atender suas demandas contra os pequenos e extremamente lento ou omisso em face das justas reivindicações destes. Exemplo disso foi a veloz libertação do banqueiro Daniel Dantas, também grande latifundiário no Pará, mesmo pesando sobre ele acusações muito sérias, inclusive de tentativa de corrupção.

O Evangelho é incisivo ao denunciar a hipocrisia reinante nas altas esferas do poder: “Ai de vocês, guias cegos, vocês coam um mosquito, mas engolem um camelo” (MT 23,23-24).

Que o Deus de Justiça ilumine nosso País e o livre de juízes como Gilmar Mendes!

Goiânia, 6 de março de 2009.


Dom Xavier Gilles de Maupeou d’Ableiges
Presidente da Comissão Pastoral da Terra